quinta-feira, junho 16, 2005

Rádio e Educação

O rádio faz parte do cotidiano da maioria da população brasileira. Segundo a PNAD entre 1992 e 1997, o percentual de domicílios com rádio passou de 84,9% para 90,3%. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha na Grande São Paulo em dezembro de 1993 revelou que as pessoas, independente da classe social, passam mais tempo ouvindo rádio do que assistindo televisão, lendo jornais ou revistas. A audiência diária do veículo concentra-se no período de 8 às 18 horas, enquanto a da TV restringe-se ao horário de 19 às 22 horas.
A grande popularidade do rádio é atribuída ao caráter universal de sua linguagem - essencialmente coloquial, simples e direta -, além da empatia que procura estabelecer com o ouvinte ao atender suas demandas por lazer, música, entretenimento, informação e companhia. O rádio pode ser escutado em qualquer lugar, sem dependência de tomadas ou fios, e serve como fundo sonoro ao ouvinte ocupado com alguma outra atividade.
Se o rádio é o meio de comunicação que tem o alcance mais próximo do universal e com maior audiência ao longo do dia, também é o que está mais próximo do público mais pobre. Estima-se que, em média, 90% da classe de baixa renda, homens e mulheres de todas as idades, ouvem rádio cerca de três horas diárias (Marplan - 1992)1.
A proximidade com a população mais carente faz com o rádio seja utilizado nas campanhas de saúde, educação e outras áreas sociais que queiram mudar e consolidar novos valores e comportamentos. Ainda com baixa participação no mercado publicitário, o rádio tem sido o meio por excelência das estratégias de disseminação das esferas de governo e do terceiro setor para promover informação, educação e comunicação.
No caso da educação, o rádio é bastante útil para divulgar iniciativas governamentais e estimular o controle social junto a pais, professores e diretores de escolas, beneficiários dos serviços públicos de educação, sobretudo nos locais onde os problemas de ensino se apresentam mais agudos (e onde se diz que “só o rádio chega”).
Como disse a pesquisadora e professora de rádio da Universidade e Brasília, Nélia Del Bianco: “se o rádio é uma das mídias mais populares, por que não utilizá-lo na divulgação de notícias sobre educação e na distribuição de programas radiofônicos educativos que transmitem idéias e mensagens visando à promoção humana e o desenvolvimento integral do homem, podendo estimular a reflexão e a transformação social?” (DEL BIANCO, 2000: 4)2.
Rede de Comunicadores pela Educação - Para fazer com que a educação tenha mais notícia no rádio, o Ministério da Educação, em parceria com entidades do terceiro setor, está atuando para consolidar uma Rede de Comunicadores pela Educação nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O objetivo é ter mobilizados comunicadores para informar mais sobre a situação da educação nos municípios e assim estimular a participação da comunidade na vida escolar e na fiscalização dos recursos para o ensino público.
A rede está sendo articulada pelo Fundo de Fortalecimento da Escola, Fundescola, desde 1997, quando com o apoio do Unicef foi publicado o “Manual do Radialista que Cobre Educação” e treinados 565 radialistas dos estados do Nordeste em oficinas de radiojornalismo e educação. O Fundescola é um programa do MEC que conta com recursos do Banco Mundial para atendimento do ensino fundamental nas regiões mais pobres do país3.
Em 1998 começou a ser fornecido a esses comunicadores spots, jingles programas de rádio, como a rádio-novela “A Caminho da Escola”, e o “Boletim Técnico” do Fundescola para a cobertura da pauta da educação. Todos os membros da rede obtiveram autorização para retransmitir diariamente o programa de rádio sobre educação “Escola Brasil” da Rádio Nacional AM e Rádio Nacional Amazônia4, apoiado pelo Fundescola.
Em 2000, foram treinados mais 800 radialistas de 19 estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Essas oficinas foram realizadas por um consórcio de organizações não-governamentais, formado pela UCBC (União Cristã Brasileira de Comunicação Social), Rádio Extra – Projetos em Comunicação, Rádio Regional Cícero Dantas e AMEPPE (Associação Movimento de Educação Popular Integral Paulo Englert).
Em cada estado foram capacitados em média 40 radialistas de emissoras diferentes. Participaram das oficinas comunicadores de rádios comerciais, educativas, comunitárias e serviços de alto-falante.
Além das oficinas, as ONGs foram responsáveis pelas edições do informativo mensal “Educação no Ar” e pela publicação da “Cartilha do Radialista – Educação para Todos: Um Desafio de Comunicação”.
A realização das oficinas e produção de material para os radialistas vai ao encontro das recomendações de 150 jornalistas que participaram do encontro “Mídia e Educação”, realizado em novembro de 1999, em São Paulo. De acordo com os jornalistas, para promover a melhoria da qualidade da informação sobre educação deveriam ser criados fóruns regionais sobre mídia e educação e incentivar a formação permanente dos profissionais de comunicação e educação.

Vinicius Silva.

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