quinta-feira, junho 16, 2005

Masculinidades e Violencias

Masculinidades e Violências

Por que enfocar masculinidades e violências?

Pesquisas oficiais apontam para a violência enquanto um grave problema de Saúde Pública no Brasil em suas infindáveis formas de manifestação. Dentre essas, a violência intrafamiliar e baseada em gênero tem sido foco de atenção de instituições públicas, organizações da sociedade civil e movimentos autônomos desde meados da década de 80.

Mais recentemente, o problema da violência nos contextos urbanos tem vitimizado, sob vários aspectos, fundamentalmente os indivíduos mais jovens do sexo masculino: a violência que germina do crime organizado em torno do tráfico de drogas; a violência policial daí decorrente; a violência intrafamiliar e a violência baseada em gênero.


Homens Jovens entre vítimas e autores de violências

Violência entre os homens jovens
Entre 1979 e 1996 morte por homicídios e outras violências teve aumento de 135%1. Somente em 1996 35% das mortes de jovens tiveram como causa mortes por causas violentas, enquanto para o conjunto da população essa taxa foi de 6,4%. Apesar de no Brasil as taxas de suicídios se manterem muito baixas em relação às outras causas de morte, pesquisas internacionais indicam que o suicídio está entre as três primeiras causas de morte entre os homens jovens (três vezes mais homens jovens se suicidam em relação às mulheres jovens).2

Violência contra os homens jovens
Uma pesquisa3 realizada na primeira metade da década de 90 confirma que a criminalidade letal no Rio de Janeiro tem como principais vítimas os homens jovens (em 1992 os homens jovens – entre 18 e 29 anos – representavam 20,38% da população carioca e 57,7% de homicídios dolosos).

Violência Masculina nas relações interpessoais
A mesma pesquisa indicou que os tipos de conflitos, uso de armas e local do crime que qualificam o homicídio são diferenciados por gênero e grupo etário.
Quando os homicídios são referidos a conflitos interpessoais a porcentagem da amostra foi de 19,3% para os homens e 26,3% para mulheres.

Algumas pesquisas4 no Rio de Janeiro sobre violência masculina sob o enfoque dos homens confirmaram algumas noções acerca da assimetria nas relações de gênero com recurso à violência como forma de resolução de conflitos a partir dos dados sobre violência física, psicológica e sexual.

Numa avaliação do Projeto Piloto Penas Alternativas para Homens Autores de Violência Intrafamiliar foram analisadas 67 respostas de homens que cumpriam pena alternativa por agressão à parceira íntima. Os resultados5: 76,1% usou de violência psicológica em média 2,9 vezes contra suas parceiras; 82,1% usou de violência física em média 3,3 vezes e 35,8% usou de violência sexual 0,7 vezes contra a parceira íntima. Esta pesquisa inspirou uma pesquisa de maior fôlego com uma amostra de 749 homens entrevistados. Os resultados6: 25,5% já usaram de violência física contra parceira íntima (ou seja, 1 em cada 4 entrevistados admitiu já ter agredido uma mulher); 17% usaram violência sexual e 40% admitiram já ter agredido psicologicamente.

Acredita-se que cada tipo de manifestação de violência, apesar de raízes comuns, tem especificidades próprias e, portanto, merecem elaboração e intervenção adequadas na sua abordagem seja direta ou indireta.
As abordagens sobre o problema até agora indicaram que as diferentes formas de violência que vitimizam principalmente homens demandam refletir sobre a socialização masculina e sua relação com a violência, a aceitação social da violência como expressão de emoções para os homens; a cultura do “poder” masculino nas relações familiares e de gênero; a imposição deste “poder” nas resoluções de conflitos com mulheres e outros homens.

Um primeiro passo para romper com esta “cultura de poder masculino” é a apreensão da masculinidade enquanto uma experiência que se constrói durante a vida, através das relações sociais, e, transversalizada à etnia, classe social e contexto sócio-econômico.



















Diante destas constatações, hoje se sente a necessidade de as diversas instituições que trabalham com a questão da violência masculina criarem redes de atuação conjunta com o objetivo de sensibilizar e mobilizar instituições e os homens no engajamento pelo fim da violência contra mulher.

Instituições como o ECOS – Comunicação em Sexualidade (SP); CES – Centro de Educação para Saúde (Santo André – SP); Pró-Mulher (SP) e Programa PAPAI (Recife) e Instituto Promundo (RJ)–estão engajados em promover a mudança de atitudes e comportamentos dos homens para que:

a)participem como aliados nas iniciativas para eliminar a violência contra mulheres;
b)não fiquem calados diante desta violência;
c)usem outras formas para resolver conflitos ao invés da violência.




* Soraya Oliveira é consultora do Instituto Promundo e mestre em Serviço Social pela UERJ

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