segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Verdades sobre a ALQUIMIA


Alquimia


A “arte da khemeia” foi muito além da metalurgia. As comunidades mais antigas produziam cerâmica e vidro, fabricavam gemas artificiais e bebidas alcoólicas, como a cerveja e o vinho, e conheciam as técnicas de manufatura de corantes e pigmentos. Também a pólvora já era produzida e usada pelos habitantes primitivos da região que corresponde hoje à China e à Índia.

Os povos antigos tinham uma visão de mundo mágica e animista, isto é, com tendência a considerar todos os seres da natureza dotados de vida e capazes de agir com determinada finalidade.

As transformações da matéria eram praticadas pelos artesãos; esse conhecimento tinha um caráter sagrado, quase religioso, equivalendo-se em importância ao conhecimento dos feiticeiros. As técnicas conhecidas pelos artesãos eram indispensáveis ao grupo e eram mantidas em segredo, sendo transmitidas do mestre para o discípulo, ficando restritas ao círculo dos artesãos daquela especialidade.

Assim havia artesãos que conheciam as técnicas da metalurgia; outros, as técnicas da fabricação de vidro; outros, da produção de cerâmica; outros, de pigmentos; outros, da fabricação de cerveja e assim por diante. Um artesão de determinada “especialidade” não conhecia as técnicas utilizadas por um artesão de outra “especialidade”; desse modo, não se estabelecia nenhuma relação entre elas. Da forma como viviam, não era possível distinguir, como fazemos hoje, as “atividades químicas” das demais atividades.

Nessa visão, a terra, que produz os alimentos e os minérios, é vista como mãe.

Acreditando que toda matéria se comporta como um organismo vivo (teoria conhecida como vitalismo), o processo de transformação dos minerais em metais, por exemplo, deveria ocorrer naturalmente no interior da Terra, de maneira análoga ao desenvolvimento de um feto no útero da mãe. Portanto, o trabalho do artesão especializado em metalurgia que retira o metal do minério com a ajuda do fogo é comparado ao do obstetra, na medida em que ele auxilia o “parto da Terra-mãe”.

Nessa concepção, a transformação de minérios em metais era apenas uma questão de acelerar e reproduzir um fenômeno que deveria ocorrer naturalmente no interior da Terra; daí o seu caráter mágico.

A questão sobre a origem da matéria, e o porquê das transformações, começou a ser levantada pelos primeiros filósofos gregos.

A idéia “elemento” provavelmente surgiu das observações que os filósofos faziam das transformações da matéria. Por exemplo: se uma pedra de azurita (minério de cobre) pode se transformar em um metal avermelhado (cobre), do que essa matéria é constituída? Quem sabe de pedra, ou de cobre, ou das duas coisas ao mesmo tempo?

Ou será que toda matéria pode se transformar numa outra específica mediante determinado número de etapas, de modo que toda matéria existente seja, na verdade, um aspecto diferente de uma mesma matéria básica?

Para os antigos filósofos a resposta à última questão era afirmativa porque desse modo o Universo adquiria uma ordem e uma simplicidade básicas, sob a qual eles teriam certo “controle”.

Tales, filósofo da cidade jônica de Mileto, por volta de 625 a.C. a 546 a.C., sugeriu que a origem de tudo estaria num único elemento (palavra usada naquele tempo para indicar um princípio básico do qual toda matéria seria constituída) e estabeleceu que esse elemento único seria a água.

Quando a água líquida é resfriada à temperatura de 0 °C (sob pressão de 1 atm), ela se torna mais densa, o que sugere que os corpos sólidos são formados por condensação de água. Já, ao ser aquecida, a água passa para a fase gasosa, dando a idéia de que o ar é uma forma mais rarefeita de água.

Para outro filósofo de Mileto, Anaximandro (610 a.C.-546 a.C.), o único elemento era o que ele chamava de ápeiron (palavra que significa “indeterminado” ou “ilimitado”), do qual se originavam os pares de opostos (fogo e água, frio e calor etc.) que constituíam o mundo.

Assim, todas as transformações eram o resultado da interação entre os opostos.

Naquela época o conceito de vácuo não era aceito. Portanto, ninguém acreditava que no espaço que há entre a terra e o céu pudesse não haver matéria. Como a parte do espaço que se conhecia continha ar, parecia razoável supor que o ar estivesse espalhado por todo o Universo.

Assim, Anaxímenes, outro filósofo de Mileto que viveu no século VII a.C., sugeriu que o ar seria o elemento básico e que todas as coisas materiais eram formadas por rarefação ou condensação do ar.

Heráclito (540 a.C.-480 a.C.), filósofo da cidade de Éfeso, raciocinou de maneira diferente: se o que caracteriza o Universo é a mudança constante, é preciso buscar um elemento no qual essa mudança seja mais perceptível.

Heráclito sugeriu então que o fogo, responsável pela perpétua mutação e fugacidade da matéria, seria o único elemento que constituiria todas as coisas.

Até que o filósofo Empédocles (485 a.C.-425 a.C.), nascido na Sicília, Itália, na época sob domínio grego, propôs substituir a busca do elemento único por um conjunto de quatro elementos: água, ar, fogo e terra (que ele acrescentou).

Esses elementos seriam eternos e movidos pela ação do Amor e do Ódio. A matéria então seria formada pela combinação dos quatro elementos, misturados pelo Amor ou separados pelo Ódio.

Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), da cidade grega de Estagira, reconhecido atualmente como um dos mais importantes filósofos da humanidade, adotou e modificou a teoria dos elementos criada por Empédocles.

Segundo Aristóteles, a matéria era formada por uma única essência, que não poderia ter existência isolada (matéria contínua).

Nessa essência da matéria, as quatro qualidades primárias (quente, frio, seco e úmido) se combinariam aos pares, formando dessa maneira os elementos terra, água, ar e fogo.

Os corpos compostos pelas combinações desses elementos poderiam ser convertidos uns nos outros, bastando para isso variar as quantidades relativas das quatro qualidades que entrariam em sua composição.

Segundo Aristóteles, apenas quatro das seis combinações possíveis seriam permitidas:

- Quente e seco podiam se combinar para formar o fogo.

- Quente e úmido podiam se combinar para formar o ar.

- Frio e seco podiam se combinar para formar a terra.

- Frio e úmido podiam se combinar para formar a água.



Essa idéia de que a matéria seria formada de uma única essência forneceu uma base sólida para uma atividade que começou a se desenvolver nessa época: a alquimia (que se manteve entre os anos 300 a.C. e 1 500 d.C.).

A palavra alquimia é uma adaptação para o português da palavra árabe alkimiya que, por sua vez, se originou da palavra khemeia (o prefixo al em árabe significa “o”).

Os alquimistas buscavam, dentre outras coisas, a transmutação dos metais, por exemplo, a transformação do chumbo em ouro. Se toda matéria tivesse a mesma essência, como pregava Aristóteles, bastaria trocar as qualidades (quente, frio, seco e úmido) para transformar um metal em outro.

Os alquimistas também acreditavam que os metais, “gerados no útero da Terra-mãe”, iam evoluindo ao longo dos anos.

Na escala de “evolução dos metais” estabelecida pelos alquimistas, o chumbo ficava num dos estágios mais baixos, mas, à medida que fosse evoluindo (processo “natural” que levaria milhões de anos), acabaria se transformando em ouro, metal que estava no estágio mais alto dessa evolução. O que se buscava era um meio de acelerar esse processo.

A alquimia árabe foi importante entre os anos 600 d.C. e 1 100 d.C.

O mais famoso dos alquimistas árabes viveu por volta de 720 d.C. a 813 d.C. e é conhecido hoje como Geber, embora seu nome fosse Djabir-Ibn-Hayyan.

Geber fez inúmeros esforços para produzir ouro; finalmente se convenceu de que os metais seriam constituídos pelos princípios enxofre e mercúrio; esses princípios não poderiam ser isolados e seriam responsáveis pelas propriedades dos metais.

Assim, o segredo da transformação de chumbo em ouro estaria justamente em estabelecer a proporção correta desses dois princípios no ouro e reproduzi-la no chumbo.

Como as tentativas de transmutar os metais não davam resultado, os gregos passaram a acreditar que seria necessário um pó coadjuvante para efetuar a transmutação. E eles denominaram esse pó de xerion, palavra grega que significa “seco”.

Em árabe essa palavra tornou-se al-iksir, da qual deriva a palavra que conhecemos hoje como elixir.

As Cruzadas cristãs, que começaram em 1096, tornaram mais freqüente o contato entre o leste e o oeste, e o conhecimento da alquimia começou a infiltrar-se na Europa Ocidental.

A alquimia medieval estava intimamente relacionada com a numerologia, a astronomia, o misticismo e a magia negra, e o seu ímpeto se dirigia à descoberta de um método de “manufaturar” o ouro.

Os alquimistas tornaram-se obsessivos na procura do elixir de Geber, o qual eles finalmente rebatizaram como a pedra filosofal.

Descobrir como acelerar e reproduzir a “transformação natural dos metais em ouro” significava para o verdadeiro alquimista muito mais do que obter a riqueza do ouro: significava a revelação do mais precioso segredo da natureza, e esse segredo só seria revelado a quem tivesse atingido o topo da evolução espiritual.

Assim, ao buscar “a perfeição dos metais” ou “a cura de todas as doenças dos metais”, os alquimistas estavam buscando a própria perfeição ou a cura de todas as “doenças da alma”.

Conforme acreditavam, quem obtivesse tal revelação seria recompensado com o dom da imortalidade.

O animismo também é definido como uma doutrina segundo a qual uma só e mesma alma é o princípio da vida e do pensamento. O professor E. B. Tylor criou a teoria do animismo, buscando essa palavra em velhas concepções do espírito humano e na filosofia primitiva geral, na qual o homem selvagem acreditava que almas e espíritos “animavam” todas as coisas vivas e inertes do Universo.



Os feiticeiros conheciam os segredos do fogo, das plantas, o ciclo das águas e do clima. Sabiam a melhor época para o plantio e a colheita de determinada espécie, além de fazer os desenhos e as máscaras utilizados nos rituais mágicos. Eles guardavam a cultura do grupo e a transmitiam para as outras gerações.

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